Nascido a 20 de Novembro de 1911, na localidade de Treixedo, junto ao rio Alva, concelho de Arganil, foi o terceiro filho de sua mãe. Gente pobre, criada na rudeza do campo, numa época em que a distância se media ao passo do burro.
A beleza das paisagens do Alva e a aspereza dos trabalhos da terra moldaram o seu carácter, viril, mas sensível; austero, mas profundamente sociável; disciplinado e preserverante, um verdadeiro «Bravo» como a si próprio se chamava.
Começa a trabalhar muito cedo, auxiliando sua mãe e seus irmãos na apanha da azeitona e nas lides domésticas. Aos sete anos, inicia a escola primária, mas termina apenas a terceira classe. Na escola, aprendia rapidamente, mas gostava sobretudo das brincadeiras, porque em casa eram proibidas, como o próprio relata no livro O que é o Destino?.
Nesta sua obra autobiográfica, descreve minuciosamente a sua vida: O primeiro emprego aos 9 anos, num estabelecimento comercial; os abusos e a agressividade do patrão; o segundo emprego aos 10 anos e os seus muitos outros trabalhos – numa fábrica de bonés, como balconista, as limpezas nas casas ricas, como electricista; o seu trabalho nas oficinas e o modo como, aos 14 anos, conheceu o mestre Tomás, de quem recebeu as primeiras lições de espiritismo. Verdadeiro homem dos sete ofícios, abraçou inúmeras profissões, optando, aos 17 anos, pela de caixeiro-viajante.
A misericórdia divina providenciava assim a actividade certa para o grande batalhador do espiritismo em Portugal, permitindo-lhe o contacto com várias pessoas e deslocações frequentes por todo o País.
Perto dos 20 anos de idade, numa viagem de trabalho ao Entroncamento, em casa de um parceiro de negócios, ouve falar dos médiuns conhecidos na região e dos jornais espíritas em Portugal.
Através deste amigo, visitou a médium D. Emília Tanqueiro, com a ideia de a conhecer e tomar contacto com os confrades espíritas; ela, no entanto, chamou-o em particular e, pelo processo da prancheta, recebeu uma mensagem do mundo espiritual, que o aconselhava à calma, pois muitos ficariam pelo caminho, mas ele haveria de vencer, embora com muita luta.
Desde o contacto com a médium D. Emília Tanqueiro, não mais deixou de estudar e investigar, encontrando apoio no Centro Espírita Luz e Amor, na Rua do Salitre, em Lisboa. Amadureceu a Doutrina dentro de si próprio e 30 anos depois, quando a altura se tornou propícia, criou a revista Fraternidade, em 1963 – a mais antiga revista espírita de Portugal. Foi dela o colaborador número um, dado que quase todos os artigos eram escritos por si, apesar do pouco tempo de que dispunha.
Em Janeiro de 1969, fundou a Associação de Beneficência Fraternidade (A.B.F.) e em 1978 inaugurou o Lar Fraterno de Portugal.
Eis as suas próprias palavras, publicadas na Fraternidade: «A Associação de Beneficência Fraternidade (…) é uma filha da nossa revista (…). E foi fundada como Associação de Beneficência para camuflar as [suas] actividades espíritas. Sabendo nós que era impossível organizar novas associações pela perseguição que lhes era movida, procurámos dar vida a uma associação cujos documentos se encontravam adormecidos nos arquivos do Governo Civil de Lisboa, com o nome de Fraternidade Esotérica, a quem demos vida para legalizar uma associação que se mantinha na clandestinidade. Nesta situação, procurámos atrair os velhos espíritas (…). Fundámos então a nossa Associação [na Av. Marquês de Tomar, em Lisboa, em casa alugada], à espera da oportunidade de tomarmos conta, oficialmente, da nossa futura sede, na Calçada de Santo António, 14 A e B (…). Foi-nos muito difícil dar vida a uma instituição que, pode dizer-se, reencarnou em tempos muito difíceis para se lhe dar o carácter de espiritismo, cujos orientadores eram extremamente perseguidos em Portugal, onde foram encerrados todos os centros espíritas e espiritualistas. Mas não podíamos parar e para vencermos tivemos de camuflar os nossos objectivos, não deixando de levar em frente a nossa acção para atrair as ovelhas do bom pastor, perdidas nos labirintos organizados pelos lobos roubadores que tudo fizeram para nos cortar os movimentos».
Graças ao seu carácter impetuoso e dinâmico, consegue trazer a Portugal grandes tribunos brasileiros: Ariston Santana Teles, Richard Simonetti, Jorge Rizzini, Divaldo Pereira Franco e outros. Com eles, percorre todo o País, realizando palestras, divulgando a bendita Doutrina dos Espíritos.
Incansável trabalhador, promove encontros com outros centros espíritas, nacionais e estrangeiros, especialmente espanhóis. Várias são as excursões de convívio e esclarecimento com esses núcleos espíritas.
As tradicionais festas de Natal e das Rosas são momentos de convívio fraterno e de aprendizado doutrinário, na mais pura vivência do postulado kardequiano «Fora da caridade não há salvação». Realizadas na Comarca de Arganil, no salão das Furnas ou noutros espaços da cidade de Lisboa, contavam com variados artistas e ranchos folclóricos, sem esquecer a prata da casa.
Mas, a fenomenal energia do nosso irmão Eduardo de Matos permitiu ainda que, durante mais de uma década, se realizasse a distribuição da sopa aos pobres, aos quais não se perguntava quem eram, de onde vinham ou as razões das suas misérias.
Não ficou por aí a sua actividade. Em 1975, adquiriu ao Estado o antigo Solar de S. Pedro, em Sintra, onde fundou, em 1978, o Lar Fraterno de Portugal. Até à sua extinção, em 2003, com muitas dificuldades e várias remodelações, contra todas as barreiras políticas, financeiras e humanas, manteve, invariavelmente, cerca de 15 idosos. O objectivo jamais foi o do lucro, dado que todas as pessoas que acolheu ao longo dos tempos eram de poucos recursos.
Batalhador da Verdade na seara do Senhor, numa época de censura política, em que a literatura espírita, embora abundante no Brasil, era escassa em Portugal, chama a si próprio a escrita de várias obras – algumas de cariz pessoal, outras doutrinárias. Mas, sempre norteadas pelo mesmo desejo de espalhar os ensinos dos espíritos. Destacamos Culto do Evangelho no Lar, Curso de Espiritismo em Síntese, Espiritismo, o Caminho e a Escola da Verdade e do Amor, O que é o Destino? e O Anjo de Portugal.
Apesar da idade, a Graça Divina concede-lhe a felicidade de inaugurar a nova sede da A.B.F., em 1990, pela qual batalhou por tantos anos na angariação de fundos. Desencarna a 20 de Março de 1992, no Hospital Curry Cabral, em Lisboa.
É Joanna de Ângelis, pela mediunidade de Divaldo Pereira Franco, na palestra que realizava no Algarve, que diz ao movimento espírita nacional: «Nosso irmão Eduardo de Matos acaba de chegar ao mundo espiritual».
Amigo de todos nós e entusiasta do bem-fazer, passou pela Terra espalhando o perfume do Evangelho que tanto amava. De sua autoria, é o hino que dedicou a Allan Kardec, mas que ousamos agora dedicar-lhe:
“Batalhador da Verdade
Na seara do Senhor
Guia a pobre humanidade
Para a Paz, para o Bem para o Amor”